quinta-feira, 19 de novembro de 2015

"Ela era muitas coisa"

Ela era muitas coisas. Era uma rapariga, segura, forte. Era capaz de enfrentar o mundo com aquele andar triunfante, real e poderoso. Ela tornava qualquer coisa na sua mente numa coisa completamente diferente. Nunca vi quem viajasse como ela viajava no pensamento. Tudo o que fazia transpirava magnificência. Quando andava, o cabelo saltitava pelos ombros. Ria-se distraidamente e sorria para as pessoas que conhecia. Tinha uma postura de mulher, sentava-se no café e brincava com os cabelos, pegava na chávena com as duas mãos para as aquecer e tapava a boca quando se ria demasiado alto. Quando se penteava, o cheiro do seu champô inundava a casa de banho e quando abraçava alguém, o seu cheiro ficava preso na roupa da outra pessoa.
Mas ela não era sempre assim. Ainda me lembro de a descrever como antes era. Insegura, diferente. Lembro-me a ver chorar num canto, sentada no chão tentando não ser ouvida. Ela era muitas coisas.

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